segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Aprender

Aí, meu bom e velho amigo, preciso lembrá-lo de que neste vasto mundo de horrores, há momentos em que o espanto se transforma, mesmo que por instantes, em encanto. Há, sim, em algum lugar do caminho, no meio da devastação, um quadro bonito para se olhar. Em meio às paixões humanas, um sentimento delicado e solene a ser apreciado. As pessoas que perderam a fé no semelhante, nem sempre encontram apoio às suas teses por todo o tempo e choram, destarte não de tristeza, mas de emoção, de encanto, por verem que no meio dos escombros, cresce uma flor linda e perfumada. Que a tempestade regou a terra, a qual reage grata e fértil. A tristeza, a dor, o desencanto, enfim, todos os sentimentos considerados ruins, têm efeitos colaterais mais do que perfeitos. As lágrimas lavam a alma. O pranto alivia o coração. É com a alma massacrada pelos fracassos da existência, que o espírito se eleva e nos faz o sentimento de sermos, realmente, humanos, gente e de boa qualidade. Na felicidade, somos premiados por tudo aquilo que demos ao mundo, nossas melhores expectativas, nossos sonhos, nosso tempo, nosso esforço, nosso empenho. Mas é no pedregoso caminho que machuca o pé descalço, lacerado, dolorido, sangrante que encontramos força, razão, compreensão, para entendermos a vida quando ela é rude ou quando é generosa, sem nunca questionarmos se ela está acertando ou errando. Porque a existência é sábia. Podemos até demorar, mas um dia, mesmo que seja o último de nossas vidas, acabamos aprendendo com ela. Desde o vagido do nasciturno até o expirar do ancião, tudo é aprendizado. Aprendemos a nascer, a viver e a morrer. Só espero que Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, nos conceda a graça de compreendermos as belezas dos horrores deste mundo fantástico e que a brevidade da felicidade é algo natural e também que a escola da existência é assim mesmo. No princípio, uma enigmática forja de razões incompreendidas e no final, uma amiga carinhosa e presente, nos dizendo: "- vai! Eu te ensino como."

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