domingo, 5 de julho de 2009

Sociedade dos Poetas Mortos



Quando fui assistir o filme Sociedade dos Poetas Mortos, dei um espetáculo à parte no cinema. Chorei de soluçar, cheguei a chamar a atenção. Ocorre que o enredo do filme tem uma semelhança muito forte com um fato real que reportei no interior de São Paulo, tempos antes de ver o filme.
Depois de uma rápida e desastrada passagem pelo SBT em São Paulo, no tempo do Arlindo Silva no Departamento de Jornalismo, fui parar na Globo em São José do Rio Preto.
A pedido de um amigo, que estava investindo em um jornal semanário na região, por mais de um ano fechei todas as edições aos finais de semana, sem cobrar um tostão, apenas para ajudar.
Um dia, recebi uma sugestão de pauta muito estranha. E acabei fazendo uma das melhores matérias da minha vida.
Na sugestão, dizia-se que todos os professores do CEFAM (Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério) estavam sumariamente demitidos e que a causa da demissão não era algo assim muito correto, nem honroso, apesar de a direção alegar que era porque os professores eram todos engajados no PT e estariam fazendo ativismo político dentro da Escola.
Tudo começou com a chegada de uma equipe nova no CEFAM. No primeiro contato, os alunos ficaram tão encantados, que terminava a aula, a escola fechava, apagavam-se as luzes e ainda assim, alunos ficavam sentados no meio-fio conversando com o professor sobre o tema da aula.
O professor de Geografia trouxe o globo terrestre à sala de aula. Marcou todos os pontos de conflito armado em todo ele e pediu aos alunos que prospectassem (naquele tempo ainda não havia google nem internet) na imprensa todas as notícias pertinentes, para discussão.
A didática do grupo deixou os alunos apaixonados.
Entretanto, houve um efeito colateral ótimo para os alunos, mas muito inconveniente para o derredor.
Começaram as reclamações à direção da escola. Elas provinham das famílias dos alunos.
Os pais reclamavam que os filhos estavam mais questionadores. Mais inquietos. Alguns, de maior posse, praticamente obrigaram o pai a assinar jornais diários de grande circulação.
A família notava que esses alunos do CEFAM já não se dedicavam muito mais às novelas, mas grudavam nos telejornais.
Até a maneira de se vestir, de se relacionar, mudou. Com isso, os círculos tradicionais de amizades também foram se alterando, sob o olhar horrorizado de pai e mãe, que não compreendiam quais terríveis motivos estariam “transtornando” tanto seus filhos. Eles estavam questionando tudo e tendo um comportamento estranho! Mal sabiam esses pais e familiares, que os jovens estavam, na realidade, simplesmente aprendendo a pensar.
Essa alquimia da didática, onde os professores atingiram o estado da arte na transmissão não apenas do saber, mas do interesse intenso pelo conhecimento, era demais para a cidade média do interior.
A matéria se encerrou mostrando um entrevero com um aluno que não apagou a lousa, apesar de valer nota, segundo o novo professor que substituiu o demitido.
O aluno não aceitava que um gesto mecânico de apagar a lousa, fosse motivo para a concessão de nota.
Em resumo, os professores fora de padrão foram banidos, mas deixaram sementes.
Hoje, longe do local e longe da época em que os fatos aconteceram, eu ainda torço, bem lá do fundo da minha alma, para que elas tenham frutificado e se reproduzido.
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