domingo, 3 de abril de 2011

MENSAGEM A GARCIA


(Escrito por Elbert Hubbard em fevereiro de 1899)

Em todo este caso cubano, um homem se destaca no horizonte de minha memória. Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava aos americanos era comunicar-se, rapidamente, com o chefe dos revoltosos – chamado Garcia - que se encontrava em uma fortaleza desconhecida, no interior do sertão cubano. Era impossível um entendimento com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o Presidente precisava de sua colaboração, e isso o quanto antes. Que fazer? Alguém lembrou: "Há um homem chamado Rowan... e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, esta pessoa é Rowan”. Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a Garcia. Não vêm ao caso narrar aqui como esse homem tomou a carta, guardou-a num invólucro impermeável, amarrou a ao peito e, após quatro dias, saltou de um pequeno barco, alta noite, nas costas de Cuba; ou como se embrenhou no sertão para, depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil, e entregue a carta a Garcia. O ponto que desejo frisar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta destinada a Garcia; Rowan tomou-a e nem sequer perguntou: "Onde é que ele está?”. Eis aí um homem cujo busto merecia ser fundido em bronze e sua estátua colocada em cada escola. Não é só de sabedoria que a juventude precisa... Nem de instruções sobre isto ou aquilo. Precisa, sim, de um endurecimento das vértebras para poder mostrar-se altiva no exercício de um cargo; para atuar com diligência; para dar conta do recado; para, em suma, levar uma mensagem a Garcia. O General Garcia já não é deste mundo, mas há outros Garcias. A nenhum homem que se tenha empenhado em levar adiante uma tarefa em que a ajuda de muitos se torne precisa tem sido poupados momentos de verdadeiro desespero ante a passividade de grande número de pessoas ante a inabilidade ou falta de disposição de concentrar a mente numa determinada tarefa... e fazê-la. A regra geral é: assistência regular, desatenção tola, indiferença irritante e trabalho malfeito. Ninguém pode ser verdadeiramente bem-sucedido, exceto se lançar mão de todos os meios ao seu alcance, para obrigar outras pessoas a ajudá-lo, a não ser que Deus Onipotente, na sua grande misericórdia, faça um milagre enviando-lhe, como auxiliar, um anjo de luz. Leitor amigo, tu mesmo podes tirar a prova. Está sentado no teu escritório, rodeado de meia dúzia de empregados. Pois bem, chama um deles e pede-lhe: "Queria ter a bondade de consultar a enciclopédia e de fazer a descrição resumida da vida de Corrégio". Dar-se-á o caso de o empregado dizer, calmamente: - "Sim, senhor" e executar o que lhe pediste? Nada disso! Olhar-te-á admirado para fazer uma ou algumas das seguintes perguntas: - Quem é Corrégio? - Que enciclopédia? - Onde está a enciclopédia? - Fui contratado para fazer isso? - E se Carlos o fizesse? - Esse sujeito já morreu? - Precisa disso com urgência? - Não seria melhor eu trazer o livro para o Senhor procurar? - Para que quer saber isso? Eu aposto dez contra um que, depois de haveres respondido a tais perguntas e explicado a maneira de procurar os dados pedidos, e a razão por que deles precisas, teu empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a encontrar Corrégio e depois voltará para te dizer que tal homem nunca existiu. Evidentemente pode ser que eu perca a aposta, mas, seguindo uma regra geral, jogo na certa. Ora, se fores prudente, não te darás ao trabalho de explicar ao teu "ajudante" que Corrégio se escreve com "C" e não com "K", mas limitar-te-á a dizer calmamente, esboçando o melhor sorriso: - "Não faz mal... não se incomode". É essa dificuldade de atuar independentemente, essa fraqueza de vontade, essa falta de disposição de, solicitamente, se por em campo e agir, é isso o que impede o avanço da humanidade, fazendo-o recuar para um futurobastante remoto. Se os homens não tomam a iniciativa de agir em seu próprio proveito, que farão se o resultado de seu esforço resultar em benefício de todos? Por enquanto parece que os homens ainda precisam ser dirigidos. O que mantém muitos empregados no seu posto e o faz trabalhar é o medo de, se não o fizer, ser despedido ou transferido no fim do mês. Anuncia-se precisar de um taquígrafo e nove entre dez candidatos à vaga não saberão ortografar nem pontuar, e - o que é pior - pensa não ser necessário sabê-lo. – "Olhe aquele funcionário - dizia o chefe de uma grande fábrica. É um excelente funcionário. Contudo, se eu lhe perguntasse por que seu trabalho é necessário ou por que é feito dessa maneira e não de outra, ele seria incapaz de me responder. Nunca deve ter pensado nisso. Faz apenas aquilo que lhe ensinaram, há mais de 3 anos, e nem um pouco a mais". "Será possível confiar-se a tal homem uma carta para entregá-la a Garcia?”. Conheço um homem de aptidões realmente brilhantes, mas sem a fibra necessária para dirigir um negócio próprio e que ainda se torna completamente nulo para qualquer outra pessoa devido à suspeita que constantemente abriga de que seu patrão o esteja oprimindo ou tencione oprimi-lo. Sem poder mandar, não tolera que alguém o mande. Se lhe fosse confiada a mensagem a Garcia retrucaria, provavelmente: - "Leve-a você mesmo!". Hoje esse homem perambula errante, pelas ruas em busca de trabalho, em estado quase de miséria. No entanto, ninguém se aventura a dar-lhe trabalho porque é uma personificação do descontentamento e do espírito da discórdia. Não aceitando qualquer conselho ou advertência, a única coisa capaz de nele produzir algum efeito seria um bom pontapé dado com a ponta de uma bota 44, sola grossa e bico largo. Pautemos nossa conduta por aqueles homens, dirigente ou dirigida, que realmente se esforçam por realizar o seu trabalho. Aqueles cujos cabelos ficam mais cedo envelhecidos na incessante luta que estão desempenhando contra a indiferença e a ingratidão, justamente daqueles que, sem o seu espírito empreendedor, andariam famintos e sem lar. Estarei pintando o quadro com cores por demais escuras? Não há excelência na nobreza de si mesmo; farrapos não servem de recomendação. Nem todos os ricos são gananciosos e tiranos, da mesma forma que nem todos os pobres são virtuosos. Todas as minhas simpatias pertencem ao homem que trabalha, fazendo o que deve ser feito, melhorando o que pode ser melhorado, ajudando sem exigir ajuda. É o homem que, ao lhe ser confiada uma carta para Garcia, toma a missiva e, sem a intenção de jogá-la na primeira sarjeta, entrega-a ao destinatário. Esse homem nunca ficará "encostado", nem pedirá que lhe façam favores. A civilização busca ansiosamente, insistentemente, homens nessa condição. Tudo que tal homem pedir, se lhe há de conceder. Precisa-se dele em cada vila, em cada lugarejo, em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou venda. O grito do mundo inteiro praticamente se resume nisso: “PRECISA-SE - E PRECISA-SE COM URGÊNCIA - DE UM HOMEM CAPAZ DE LEVAR UMA MENSAGEM A GARCIA”.

Gabaritos subdmensionados ou o dia em que o brasileiro médio aumentou de tamanho


Fiz neste sábado uma pequena viagem intermunicipal com algo em torno dos 100km em uma linha de ônibus regular.

Fui conhecer meu novo neto, o Mateus, que chegou dias atrás.

Digamos, uma ligeira aventura.

Ao entrar no ônibus, já me dei mal.

Cadê os números das poltronas?

Só depois de perguntar a alguém, é que descobri, apagadinho tanto quanto a lâmpada interna da parte inferior do bagageiro de mão, uma meia-lua de não mais de 10cm por 2 cm, com os números das duas poltronas.

Fiquei satisfeitíssimo da vida, quando senti um enorme calor.

Estava quente mesmo, mas para piorar, notei que as janelas eram lacradas.

"Ar condicionado", pensei.

Mas o motorista tagarelava animadamente com alguém e nem dava bola parao tal do ar.

Com o ônibus já em movimento pelo terminal do Tietê, bingo!

O motorista liga o tal do ar condicionado.

Meno male.

É claro que nessas alturas eu estava mais contente do que pinto no lixo com essas coisas.

Sentei-me do lado direito do ônibus, ao lado da janela.

Eis que senão quando descobri que algo espetava a minha barriga um pouco acima da linha da cintura.

Era o braço da poltrona, como a dizer:

"Vai mais pra lá, cara-pálida!"

Mas eu não tinha como romper o vidro da janela do coletivo para ir ao lado de fora e abrir espaço para o lado de dentro.

Meu braço esquerdo ficava totalmente fora do espaço que, em tese, seria meu, invadindo a barriga do outro passageiro, que por mal dos pecados, também era gordo.

Comecei a imaginar qual seria o modelo que serviria para fazer o gabarito dos ônibus daquela maldita encarroçadora.

Marco Maciel?

Percebi que não, quando o rapaz da frente reclinou o encosto de sua poltrona e me senti como que cafungando no cucuruto dele.

Marco Maciel é estreito, mas comprido demais.

Talvez, pensei eu, para baratear os projetos, a MarcoPolo tenha reaproveitado o gabarito dos ônibus escolares.

Afinal, uma criança de oito anos cabe direitinho nas poltronas desses novos ônibus da Cometa e ainda sobra espaço!

Aliás, a obsolescência de um conceito de qualidade e bons serviços, que foi a marca registrada da Cometa há décadas, fica bem mais visível para pessoas como eu.

Usei muito os antigos ônibus espaçosos e confortáveis da empresa em viagens frequentes a Curitiba.


E como a lei de Murphy é implacável, na volta de Campinas, só tinha um outro gordo entre os 40 passageiros e foi justamente o que viajou ao meu lado.

Um detalhe:

desta vez, o ônibus não tinha ar condicionado.

E como todo mundo é friorento, ninguém abriu a janela.

E mais uma vez, a lei de Murphy me brindou com uma poltrona do lado do corredor, que é para não botar a mão em janela alguma.

É desse figurino.

As lojas de roupas trabalham com números que vão até 48 e eu uso 52.

As sapatarias adoram vender sapatos até 40 e eu calço 44.

Agora, as encarroçadoras de ônibus estão, para o meu desespero, fabricando ônibus só para crianças!