sábado, 21 de maio de 2011

"O Cara"

Dois leões fugiram do Jardim Zoológico.
Na fuga, cada um tomou um rumo diferente.
Um dos leões foi para a floresta e o outro, foi para o centro da cidade.
Procuraram os leões por todo o lado, mas ninguém os encontrou.
Depois de um mês, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas.
Voltou magro, faminto, alquebrado.
Assim, o leão foi reconduzido à sua jaula.
Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrou do leão que fugira para o centro da cidade, quando um dia, houve uma correria e o bicho foi recapturado.
Voltou ao Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde.
Mal ficaram juntos de novo e o leão que fugira para a floresta perguntou ao colega:
- Como é que conseguiste ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com saúde? Eu, que fugi para para a mata, tive que voltar, porque quase não encontrava o que comer!!!
O outro leão então explicou:
- Enchi-me de coragem e fui esconder numa repartição pública. Cada dia comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.
- E por que voltaste então para cá? Tinham acabado os funcionários?
- Nada disso. Funcionário público é coisa que nunca se acaba. É que eu cometi um erro gravíssimo. Tinha comido o diretor geral, dois superintendentes, cinco adjuntos, três coordenadores, dez assessores, doze chefes de seção, quinze chefes de divisão, várias secretárias, dezenas de funcionários e ninguém deu por falta deles! Mas, no dia em que eu comi o cara que servia o cafezinho...
Estraguei tudo!!

Equipe


Desde a mais tenra infância, tive contato com essa tal de "equipe".
Nos folguedos, brincávamos de mocinho e bandido e, é lógico, tínhamos que escolher o lado e passávamos, então, a fazer parte da equipe de heróis ou de vilões.
E articulávamos as ações combinando verbalmente tudo o que estaria se passando em nossa imaginação, fator preponderante para o sucesso da brincadeira.
Depois, veio a escola e realmente, foi o único lugar de minha vida onde constatei que, efetivamente, equipe não funciona.
Fiz muitos trabalhos de equipe para a minha equipe.
Um porre.
Depois, já adulto, experimentei o uso da equipe profissionalmente em várias empresas. Mas em especificamente uma, pude notar o quão é importante e o quanto resolve uma equipe bem montada, bem treinada e afinada para alcançar objetivos.
Quando vejo, hoje, em algumas empresas, a centralização excessiva, o egoísmo de alguns, o medo atávico de perder o posto para outrem, a má vontade em repassar conhecimento aos menos experientes, a dicotomia entre chefias e chefiados, fico consternado.
Afinal, tudo isso que eu acabo de elencar, são fatores desagregadores e que praticamente eliminam a possibilidade de montagem de uma autêntica equipe.
Por outro lado, é tão bom realizar reuniões de trabalho onde cada um assume uma responsabilidade, não sem antes relatar aos demais os resultados de suas responsabilidades anteriormente assumidas, seus rumos e aproveitamento - porque vemos, com isso, que a equipe funciona de uma maneira mágica, produtiva, eficiente, quando há união, consenso, responsabilidade e objetivos comuns.
Numa equipe azeitada, não existe a figura da"cobrança" de tarefas e de obrigações.
Todo mundo sabe da sua, o que existe é a checagem de possíveis necessidades no decurso de sua realização, por parte dos colegas ou das lideranças, para que o trabalho chegue a bom termo.
Muitas vezes, aqueles que ocupam postos de comando, muito embora reconheçam fielmente o valor e a oportunidade de determinada ação de determinado comandado, esquecem-se de manifestar verbalmente ou por escrito esse reconhecimento, o que é lamentável, porque o ânimo da equipe pode ser revigorado pelo reconhecimento daquilo que, muito embora evidente, necessita ser destacado por seus superiores, para que faça seu efeito compensador e estimulante.
Ninguém gosta de ser mais um, um número ou um nome perdido no meio de muitos. Também aprecio muito lembrar de quando nosso trabalho dava um resultado positivo e relevante.
Nos abraçávamos, alguns gritavam, chegávamos a chorar de emoção pela tarefa muito bem, excelentemente cumprida.
Afinados na ação, afinados na comemoração.
Tenho saudade desse tempo.
Não éramos profissionais ligados a uma empresa, em busca da sobrevivência, realizando um trabalho comum.
Muito, muito mais que isso.
Éramos irmãos, solidários, afinados, lutadores e vencedores.
Tenho muito orgulho de ter tido, anos atrás, esse tipo de experiência.

O Pulso


A contração da matéria chega ao seu clímax.

É a singularidade.

De repente, por algum motivo, a energia e a matéria descompensam equilíbrios e há uma mega-explosão.

Algo me fala de pulso.

Como se tudo no universo tivesse vida.

Como se o princípio do coração fosse realmente aquele ir-e-vir de construção de formas.

De troca de energia por massa.

De massa por energia.

de acasalamento de matéria com força.

De um vai-e-vem que, puxando para si como aliada a eternidade, constrói e destrói ad-infinitum.

Multifacetando o resultado de sua aleatória ação em resultados que, no seu devido tempo, se transformam em minúsculas partículas do Universo, refletindo sobre si mesmas, como bem disse Carl Sagan.


Queria dizer do imponderável, pensar o impensável, dar asas ao pensamento, dado que é o único em todo o mundo que não tem limites nem barreiras.

Vem comigo!



O amigo do meu amigo...


No colégio, aprendi matemática Moderna, de Oswaldo Sangiorgi.
A minha professora, ou era mesmo terrívelmente fria, ou escondia muitíssimo bem as emoções.
Se o aluno dissesse que a amava, não movia nenhum músculo da face e a mesma coisa valia para quando algum aluno mais destemperado dissesse que a odiava.
Era uma autoridade na matéria, mas não tinha muita didática e desse jeito, nem poderia ter.
Foi ela quem, gentilmente, me conduziu nos primeiros passos para detestar Matemática. Entretanto, ficou aquela história do be-a-bá dos números relativos:
"O amigo do meu amigo é meu amigo e o inimigo do meu inimigo é meu amigo e o amigo de meu inimigo é meu inimigo".
Uma falácia, um sofisma só que desta vez, utilizado para o bem, ou seja, para a compreensão dos alunos, do que vem a ser o sistema de números relativos.
Na vida real, o arqui-inimigo do meu amigo pode ser meu melhor amigo e aí, a lógica dos números relativos revela a sua verdadeira cara feia de falsidade, para a minha saia-justa de explicar para os dois que sou uma espécie de "suíça", um campo neutro no meio deles.
Aliás, conviver assim, com os contrários, é uma arte.
É também um exercício de equidade e isenção, uma vez que não podemos puxar a sardinha para lado nenhum, sob pena de provocar um embroglio bastante desagradável e difícil de desfazer.
Os mais descolados e corajosos ousam até emitir opinião:
"- Acho que o Everaldo José tá errado, mas ele é um cabeça de prego que não escuta ninguém!"
Mas aí, pode haver mesmo uma saia justa com o Everaldo José a qualquer momento, porque muito embora ele possa receber com um sorriso essa afirmação, no fundo, no fundo , ele pode esperar ardentemente uma oportunidade de dizer algo também desairoso sobre você.
A convivência é muito especial e é a base de nossa sobrevivência como seres sociais por excelência.
E você, tem se dado bem nesse contexto?

Como Fazer um Bebê

Irracionais mesmo? Até onde?


A minha gata Docinho, uma vira-latas encontrada por minha filha na praça Roosevelt e trazida para casa recém-desmamada, passa todo o tempo ao meu lado, quando estou em casa.

Adora um colo, quando não pede colo fica obervando tudo o que faço atentamente e um sinal de que está á vontade, relaxada, é quando começa a fazer a higiene corporal, lambendo os pelos.


Por isso, consigo de uma certa forma, observar melhor seu comportamento.


Por vezes, fico impressionado como ela entende as coisas que falo, acata ordens, aceita convites, não sei se ela na verdade interpreta o tom de voz ou entende a situação com aqueles en
ormes olhos verdes.

Na realidade, o animal chamado de irracional, tem um quê de inteligente, no meu entendimento.


Outro dia, sem querer, dei uma pisadela na Docinho e ela deu um miado bastante alto, que até me assustou.

Não aconteceu nada com ela, mas nas horas seguintes, ela se comportou como se estivesse magoada, zangada, revoltada com o que aconteceu e não aceitou meus convites para pular no meu colo, não atendeu minhas ordens e ficou muito na dela, só vindo a reestabelecer aquela convivência normal do dia-a-dia comigo, no dia seguinte.

O fato se repete quando dou banho nela.
Fica furiosa comigo porque demonstra isso.

Tive quando garoto, alguns cachorros também que eram de uma inteligên
cia fora do comum, adivinhavam meus pensamentos.
(na foto, Docinho e sua filha Pingo)

Afinal, até onde esses animais - cãe e gatos - são irracionais, mesmo?

(Boy, pai de Pingo, repousando depois de uma noite de farra)

Método Eficiente se Consolida Automaticamente


Yara era uma moça morena de algo em torno de trinta anos de idade.
Digamos assim, não perfazia o meu modelo stander de beleza, mas era muito inteligente.
Inteligente e competente.
Por um desses caprichos do destino, ela veio a ser minha chefe.
Meu padrasto arrumou-me o primeiro trabalho de carteira assinada de minha vida com amigos e fui ser um novato absolutamente inexperiente auxiliar de escritório na administração de uma conceituada instituição local.
Do alto dos meus 14 anos, eu tinha uma inconveniência que logo cedo me levaria a conhecer os dissabores da vida.
Era muito sincero com as pessoas próximas.
E ninguém era mais próxima de mim, do que a minha chefe.
Conquistei, portanto, merecidamente a antipatia dessa jovem mulher, num belo dia quando disse a ela, sem a menor cerimônia, que eu a admirava e respeitava muito e a considerava muitíssimo competente, fato este pelo qual considerava absurdo e completamente dispensável ela ficar fazendo fuxico da Diretora.
Aliás, ela poderia, sem maiores problemas, vir a substituir a Diretora, assim que houvesse uma oportunidade, sem precisar ficar difamando a mulher e nem forçando a situação.
Pronto.
Ganhei uma grande e inexorável inimiga.
Ela foi, no dia a dia do trabalho, retirando minhas tarefas uma a uma, até que fiquei sem nada para fazer.
Na terceira visita que o diretor geral da bagaça fez ao escritório e me pegou parado, chamou-me e a ela para uma conversa reservada no consultório dentário, que estava desocupado no momento.
Aos berros, ele falou que a instituição não estava para sustentar vagabundo e que eu estava demitido.
A divisória do gabinete era de alvenaria, mas não ia até o teto.
Todo o escritório ouviu o sabão.
Fui chorando para casa e em casa, foi outro drama para explicar coisas que eu não entendia direito como isso de malícia e esperteza, mas especialmente de maldade.
Senti muita raiva de Yara, porque ela não movera um dedo para me defender junto ao diretor.
Mais tarde, compreenderia que era obra dela, tudo aquilo.

Fui profético. Anos depois, não muitos - Yara era a Diretora, como queria.

Um belo dia, a rádio da cidade noticia uma tragédia.
O noivo de Yara tinha entrado com seu carro sob um caminhão e morrera com a cabeça decepada.
Foi um choque.
Senti então, algo diferente por Yara.
Um misto de compaixão e piedade.
Ela amava muito aquele rapaz.
Imaginei o seu sofrimento.

Mais tarde, encontrei um amigo comum e ele, dentre outros assuntos, comentou:
"-Nossa, você viu o que fizeram com a Yara?"
Eu neguei, estava alheio a tudo naquele momento, mergulhado num projeto de trabalho.

Pois é, disse o amigo.
Fizeram uma grande sacanagem com a coitada.
Foram tirando atribuições dela, tirando, tirando e quando ela estava totalmente sem nada para fazer, o diretor chegou, a pegousem fazer nada, deu um tremendo dum sabão nela e a demitiu desonrosamente.
Isso não se faz!

Não se faz mesmo, respondi.
Mal sabia o meu amigo, com que propriedade eu dissera isto.