sábado, 9 de abril de 2011

TV - "em time que está imitando, não se mexe!"


Depois que a máxima do velho guerreiro "em televisão nada se cria, tudo se copia" chegou em sua mais alta performance de maneira pública e notória naquilo que poderíamos classificar como o "estado da arte", fica difícil mesmo conseguir inovar, mudar, criar nesse universo rígido e monolítico do Telejornalismo. Vc pode transitar em qualquer redação de TV, parecerá a um olhar um pouco menos aguçado, que é tudo da mesma emissora. A dança das cadeiras de chefias, talentos de trás e de frente das câmeras, a qual tem se demonstrado frenética nos últimos tempos, mostra que não há mais uma 'cara' de cada veículo: um é a cara de todos e todos são a cara de um, guardadas as devidas proporções com relação a alguns detalhes como estrutura e investimento. Mas em geral, a coisa é tão igual, mas tão igual, que um amigo meu trabalha em 3 emissoras em São Paulo e não tem nem um pingo de estresse por isso, uma vez que é como se trabalhasse numa só, mudam apenas os endereços.

Esse 'padrãozão' estilo chapa branca e rançoso, criado na ditadura para exercer um rígido controle nos ímpetos por detrás das Olivetti, Remington e até das Hermes que poderiam inocular um ou outro jornalista menos contido, colocou o Brasil de fato num triângulo em cujos vértices estão São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O resto, só se for matéria especial e ainda assim, nem sempre, nem sempre. Esse "chega pra lá" nas capitais dos Estados brasileiros, não só diminui a sua importância no contexto nacional, como cria um 'segundo Brasil' ou um Brasil de segunda classe dentro do noticiário. Um amigo meu realizou profissionalmente uma pesquisa fora do eixo sp-rio-brasília para uma rede de TV e constatou que nesse 'Brasil de segunda classe', a média salarial de jornalistas de TV é de 500 dólares mensais. A população brasileira migra muito, tem gente de tudo quanto é lado por todo lado e faz falta uma cobertura que privilegie o "anchorman" chamando praças, dando voz a apresentadores e repórteres locais, fazendo valer o seu pomposo e anglossaxônico nome, além de tirar a mordaça das capitais brasileiras, inserindo-as no contexto nacional. Afinal, isso deveria ser a vocação dos veículos de comunicação que prentendam exercer de fato o seu papel de integrar o país. Mas isso se chama inovação e inovar em TV, de repente se parece com um crime, um pecado capital, uma aberração. E outra, ninguém fez isso antes, portanto não dá para imitar e aí, pode ficar muito, muito perigoso...

Relatório à Seguradora


Reproduzo aqui a explicação de um operário português, acidentado no trabalho, à sua Cia. seguradora. (A Cia. de Seguros havia estranhado tantas fraturas, e em uma só pessoa num mesmo acidente). Chamo a atenção para o fato de que se trata de um caso verídico, cuja transcrição foi obtida através de cópia dos arquivos da cia. seguradora envolvida. O caso foi julgado no Tribunal da Comarca de Cascais - Lisboa - Portugal.


"À Cia. Seguradora.


Exmos. Senhores,

Em resposta ao seu gentil pedido de informações adicionais, esclareço:

No quesito nº. 3 da comunicação do sinistro mencionei:

"tentando fazer o trabalho sozinho" como causa do meu acidente.
'Em vossa carta V. Sas. me pedem uma explicação mais pormenorizada, pelo que espero sejam suficientes os seguintes detalhes:

'Sou assentador de tijolos e no dia do acidente estava a trabalhar sozinho num telhado de um prédio de 6 (seis) andares. Ao terminar meu trabalho, verifiquei que havia sobrado 250 kg de tijolos. Em vez de os levar a mão para baixo (o que seria uma asneira), decidi colocá-los dentro de um barril e, com ajuda de uma roldana, a qual felizmente estava fixada em um dos lados do edifício (mais precisamente no sexto andar), descê-lo até o térreo. Desci até o térreo, amarrei o barril com uma corda e subi para o sexto andar, de onde puxei o dito cujo para cima, colocando os tijolos no seu interior. Retornei em seguida para o térreo, desatei a corda e segurei-a com força para que os tijolos (250kg) descessem lentamente. Surpreendentemente, senti-me violentamente alçado do chão e, perdendo minha característica presença de espírito, esqueci-me de largar a corda. Acho desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade. Nas proximidades do terceiro andar dei de cara com o barril que vinha a descer. Ficam, pois, explicadas as fraturas do crânio e das clavículas. Continuei a subir a uma velocidade um pouco menor, somente parando quando os meus dedos ficaram entalados na roldana. Felizmente, nesse momento já recuperara a minha presença de espírito e consegui, apesar das fortes dores, agarrar a corda. Simultaneamente, no entanto, o barril com os tijolos caiu ao chão, partindo seu fundo. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25kg. Como podem imaginar comecei a cair vertiginosamente, agarrado à corda, sendo que, próximo ao terceiro andar, quem encontrei? Ora, pois, o barril que vinha a subir. Ficam explicadas as fraturas dos tornozelos e as lacerações das pernas. Felizmente, com a redução da velocidade de minha descida, veio minimizar os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos embaixo, pois felizmente só fraturei três vértebras. No entanto, lamento informar que ainda houve agravamento do sinistro, pois quando me encontrava caído sobre os tijolos estava incapacitado de me levantar, porém pude finalmente soltar a corda. O problema é que o barril, que pesava mais do que a corda, desceu e caiu em cima de mim fraturando-me as pernas. Espero ter fornecido as informações complementares que me haviam sido solicitadas. Outrossim, esclareço que este relatório foi escrito por minha enfermeira, pois os meus dedos ainda guardam a forma da roldana.


Atenciosamente,


Antonio Manuel Joaquim Soares de Coimbra