terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Receita não ortodoxa para adquirir anticorpos

Na volta do dentista hoje, estava no metrô quando notei que uma garota dos seus cinco ou seis anos, enquanto a mãe conversava animadamente olhando para o outro lado, abocanhava o corrimão do vagão, como se chupasse um sorvete de baunilha. Preocupado, porque corrimão de metrô é igual pia de água benta na igreja, ou seja, todo mundo mete a mão - fiz sinal para ela tirar a boquinha dali. A princípio, ela atendeu. Mas de repente, voltou a colocar. A mãe, continuava na conversa animada e nem dava bola para a menina. (aliás, é assim que acontecem as mais incríveis tragédias com crianças) De novo, fiz sinal, com cara de bravo para ela tirar a boca dali. Ela me olhou desafiadora. Realmente tirou a boca daquele metal cromado seboso. Mas para meu espanto e indignação, ela olhava para mim, passava a mão no corrimão, colocava a língua para fora e passava a mão na língua, sob meu protesto, meus gestos desesperados para que ela não fizesse aquilo. E a mãe, numa conversa animadísssima, olhando para o outro lado. Em poucos minutos, o trem passou por mais estações, lotou e eu não vi mais a garotinha. Dessa maneira, pude refletir sobre o que acontecera. Aquela menina nem fazia idéia da imundície que era aquilo em que ela punha a boca, portanto, não sentia nojo. Em não sabendo exatamente porque eu gesticulava freneticamente para ela não fazer aquilo, indignou-se com a minha interferência. Ora, um tiozinho estranho mandando em mim! deve ter pensado ela. Já chega todo mundo lá em casa mandando em mim! E desaforentamente, passava a mão no cromado ensebado do corrimão e lambia de maneira generosa, com cara de prazer. É claro que a mão deveria estar com um gosto esquisito, o prazer era de me contrariar, não há dúvida. As vezes, dá para comparar o gesto da menina, com as reações de pessoas adultas quando instadas a colaborar com algo com o que não estão colaborando. Aí é que desandam mesmo, aí é que lambem a mão. As reações humanas são, por vezes, bem mais comuns do que posssamos imaginar. Eu tenho uma prima que aos 7 ou 8 anos, adorava comer sabonete. Outro dia, numa lanchonete da Praça da Árvore, um menino de seus 4 ou 5 anos comia grandes nacos de meleca do nariz, já verde e aparentemente dura, saindo por fora do narizinho. Talvez na minha infância eu também tenha tido a minha parcela de porcalhão. E não adianta fazer como eu fiz com a garotinha. Ela reagiu tentando me contrariar. Na verdade, segundo o pediatra de meus filhos me disse uma vez, certas coisas das crianças que chocam os adultos, são ótimas para desenvolver anticorpos. Amém, doutor.
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