quinta-feira, 23 de maio de 2013

O Tarado do Carnaval

Vinte e poucos anos, os hormônios efervescendo nas veias, peguei a loirinha e levei para o covil. O covil era um lugar alocado por um amigo, que pertencia à família dele, mas era abandonado e só a gente tinha a chave da porta da frente, em plena cidade. Em lá chegando, fui beijando aquela maravilha de menina. Seus também vinte e poucos anos, magrinha mas gostosa, me levaram à loucura. Quando comecei a entrar para as vias de fato, ela começou a soluçar e dizer:
"-O que que é isso que vc está fazendo comigo?  Eu nunca fiz isso!"
De um lado fiquei mais excitado por saber que ela era virgem, mas de outro, minha consciência começou a me detonar. Vesti a roupa e fui embora. 
Acabara-se o meu carnaval. Onde já se viu, um sujeito como eu, ser canalha a ponto de tirar a virgindade de uma garota só porque era uma baile de carnaval? Para mim, o carnaval acabou. A minha consciência determinara: "vc é um canalha, fique no seu lugar, na sua insignificância, seu tarado!" 
Passado o carnaval, estou sentado no banco da praça da matriz, vendo o movimento. Vejo uma criança dos seus dois anos correndo pelas pedrinhas portuguesas do calçamento da praça; e de repente, ouço uma voz meio conhecida. "-Filhinho, não corre que você cai." Olhei. Era a loirinha virgem que eu evitara de desvirginar dias antes. Eu tinha contado a história para os meus colegas que estavam na praça naquele momento. Foi a salvação. Quando levantei para dar umas porradas nela, me seguraram. Meus amigos riam demais e isso me irritava sobremaneira. E ela foi embora, levando o pequerrucho que hoje, deve ter mais de 40 anos. 

Ação e Reação


Estava sentado na sala, assistindo televisão. Alguém chamou pelo nome do lado de fora da casa. Quando olhou, levou um tiro fatal no meio da cara. Até hoje, um crime não solucionado. Sem testemunhas. Sem provas. Sem nada.

Ele era um cara ousado. De uma pequena empresa, fez um império. E para isso, comprou muito de um só fornecedor. Ficou amigo íntimo do diretor da multinacional que lhe fornecia mercadoria. Iam pescar no Araguaia juntos. Para as praias do nordeste juntos. E ele sempre gentil, sempre amigo, sempre leal, sempre legal. O norteamericano não sabia do perigo. Um dia, uma mega-compra de mercadoria. É arriscado, mas o amigo merecia essa moção de confiança. E concedeu o crédito. Milhões em mercadoria. Não deu outra. Todo o estoque foi vendido e nenhum tostão foi pago. O amigo gringo foi sumariamente demitido e voltou para os EUA. E a rede de lojas se consolidara com esse golpe monstruoso.

Ao comentar essa morte, um amigo conta outra história. "Ah, ele era assim mesmo. Meu velho pai é marceneiro. Ele pediu uma cozinha completa em fórmica. Meu pai fez. Quando entregou, ele disse que não iria pagar o preço combinado. Diante da insistência de meu pai, dizendo que se endividara nas lojas comprando material para fazer a cozinha, ele concordou em pagar a metade e mais nada."

Pensando com os meus botões, logo em seguida, cheguei a uma sombria conclusão. É claro que aquele assassinato era algo lamentável. Mas foi um fim muito procurado pela própria vítima.