sábado, 21 de maio de 2011

Método Eficiente se Consolida Automaticamente


Yara era uma moça morena de algo em torno de trinta anos de idade.
Digamos assim, não perfazia o meu modelo stander de beleza, mas era muito inteligente.
Inteligente e competente.
Por um desses caprichos do destino, ela veio a ser minha chefe.
Meu padrasto arrumou-me o primeiro trabalho de carteira assinada de minha vida com amigos e fui ser um novato absolutamente inexperiente auxiliar de escritório na administração de uma conceituada instituição local.
Do alto dos meus 14 anos, eu tinha uma inconveniência que logo cedo me levaria a conhecer os dissabores da vida.
Era muito sincero com as pessoas próximas.
E ninguém era mais próxima de mim, do que a minha chefe.
Conquistei, portanto, merecidamente a antipatia dessa jovem mulher, num belo dia quando disse a ela, sem a menor cerimônia, que eu a admirava e respeitava muito e a considerava muitíssimo competente, fato este pelo qual considerava absurdo e completamente dispensável ela ficar fazendo fuxico da Diretora.
Aliás, ela poderia, sem maiores problemas, vir a substituir a Diretora, assim que houvesse uma oportunidade, sem precisar ficar difamando a mulher e nem forçando a situação.
Pronto.
Ganhei uma grande e inexorável inimiga.
Ela foi, no dia a dia do trabalho, retirando minhas tarefas uma a uma, até que fiquei sem nada para fazer.
Na terceira visita que o diretor geral da bagaça fez ao escritório e me pegou parado, chamou-me e a ela para uma conversa reservada no consultório dentário, que estava desocupado no momento.
Aos berros, ele falou que a instituição não estava para sustentar vagabundo e que eu estava demitido.
A divisória do gabinete era de alvenaria, mas não ia até o teto.
Todo o escritório ouviu o sabão.
Fui chorando para casa e em casa, foi outro drama para explicar coisas que eu não entendia direito como isso de malícia e esperteza, mas especialmente de maldade.
Senti muita raiva de Yara, porque ela não movera um dedo para me defender junto ao diretor.
Mais tarde, compreenderia que era obra dela, tudo aquilo.

Fui profético. Anos depois, não muitos - Yara era a Diretora, como queria.

Um belo dia, a rádio da cidade noticia uma tragédia.
O noivo de Yara tinha entrado com seu carro sob um caminhão e morrera com a cabeça decepada.
Foi um choque.
Senti então, algo diferente por Yara.
Um misto de compaixão e piedade.
Ela amava muito aquele rapaz.
Imaginei o seu sofrimento.

Mais tarde, encontrei um amigo comum e ele, dentre outros assuntos, comentou:
"-Nossa, você viu o que fizeram com a Yara?"
Eu neguei, estava alheio a tudo naquele momento, mergulhado num projeto de trabalho.

Pois é, disse o amigo.
Fizeram uma grande sacanagem com a coitada.
Foram tirando atribuições dela, tirando, tirando e quando ela estava totalmente sem nada para fazer, o diretor chegou, a pegousem fazer nada, deu um tremendo dum sabão nela e a demitiu desonrosamente.
Isso não se faz!

Não se faz mesmo, respondi.
Mal sabia o meu amigo, com que propriedade eu dissera isto.

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