domingo, 27 de fevereiro de 2011

Apologia da Ignorância

Essas estruturas todas, colossais, celestiais, abissais, indevassáveis. Quando penso estar à margem, eis que me vejo no meio. Ao imaginar-me inserido, sou a exclusão. Me surpreendo raso, mas as pessoas me enxergam profundo. Mas quando me sinto largo, eis que me bate à porta a mais singela estreiteza. A oferta de pérolas precisa ser repensada, isso é ancestral. E toda certeza deve ser relativa. O sol nascerá hoje também, mas só para os vivos. Os mortos pouco se importarão com o sol. E há mortos e mortos. Vivos e vivos. E há vivos mortos e há mortos vivos. Com nenhum deles o sol se importa. Ele apenas nasce.
Quantos mistérios existem no sorriso da criança, no miado do gato, no por do sol, no barulho Da cachoeira, na trilha da formiga, no vôo do beija-flor, no gesto de carinho, no sorriso do olhar, na trilha da floresta, na rua deserta, na janela fechada, nas roupas do varal, no silêncio da garota, na pelada dos adolescentes na bucólica tarde da pracinha, nas minhas saudades, no futuro incerto, na esperança, nas minhas certezas e muito mais nas minhas dúvidas?
Houve uma época em minha vida, que eu queria saber de tudo. Tudo mesmo. O passar dos anos foi me ensinado, através de goles pequenos numa bebida amarga, que, por vezes – creio que a maioria delas – é bom não saber. Não há ignorante que sofra até que perca a inocência pura e galgue o honorável patamar da consciência. Talvez a ignorância em sua mais atávica manifestação, seja a forma mais pura e sublime de predisposição à felicidade. É certo que muitas vezes, é melhor nem saber das coisas, para poder melhor curtir o pouco que se sabe, com leveza e fidalguia.

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