quarta-feira, 1 de julho de 2009

Em Busca do Pote de Ouro no Fim do Arco Íris

Tenho um certo receio dessa compulsão que as pessoas mais racionais têm de ficar etiquetando tudo, classificando tudo, tentando compreender tudo, em várias e multifacetadas escalas de valores, em variegadas cores de diferentes texturas, odores e sabores. Me faz lembrar da compulsão do personagem de "Uma Mente Brilhante" em colecionar recortes de publicações impressas, colando-as na parede de uma sala, intensa e apaixonadamente. Talvez, em certas ocasiões, essa utilidade seja a mesma. Dou um beijo na minha namorada e imediatamente, o meu sistema cognitivo começa a computar, comparativamente a todos os outros beijos que demos até então, se ele foi fraco, médio, intenso ou apaixonado e em função disso, vou ficar insatisfeito, meio satisfeito, bastante satisfeito ou mesmo feliz! Não vejo muito outra utilidade nisso além de um certo quê de TOC. Acho maravilhosamente e inexplicávelmente bom, se de repente, no meio da multidão do carnaval, dou um beijo na menina bonita sem sequer ficar elucubrando se devo, se não devo, se será bom, se foi bom, ou até mesmo se foi. A racionalização por compulsão pode estragar muita coisa interessante em nossas vidas, desnecessariamente, por invadir situações e caminhos por onde não é necessário trilhar através da compreensão, da catalogação, da interpretação cognitiva. Quando Dom Quixote de La Mancha cavalga em direção ao Moinho de Vento, ele não avalia a possibilidade de tratar-se ele próprio de uma fantasia ambulante e muito menos tem condições de enxergar um sólido moinho de vento no lugar do dragão ou dos gigantes de pedra, sob a pena de pretender desestabilizar o argumento de seu próprio criador Cervantes. Essa loucura mesmo que imaginária, mesmo que ficcional, repele, dispensa, abomina qualquer tipo de compreensão ou análise lógica, filosófica, racional, interpretativa. Quixote, o ser de triste figura, não se enxerga assim e nem poderia. Ele é um cavaleiro de boa estirpe e um herói, em busca de sua amada num castelo perdido em meio à sua tresloucada imaginação. O que somos todos nós, boa parte de nossas vidas, senão caçadores de moinhos de vento? Senão os operários de "Tempos Modernos" atarrachando porcas entre engrenagens e esteiras rolantes, fazendo rir aos outros e a nós mesmos? tenho estas e muitas outras perguntas, muito embora já saiba que o que me basta, é muito mais do que as respostas. A hiper-racionalização pode danificar nosso caminho em busca do pote de ouro no fim do arco-íris.






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