sábado, 14 de março de 2015

Precocidade

Dona Maria Eulália se sentia a avó mais orgulhosa do trecho. A neta Maria Eduarda era um primor de menininha. Linda, meiga, muito inteligente e... precoce. Tanto é verdade que na primeira vez em que a Maria Eduarda foi passar o dia na casa da avó, por volta de umas tres da tarde, a senhora tricotava uma blusa nova para a filha na sala enquanto a menina brincava com uma casinha de bonecas num canto. Súbito, assim meio que do nada, Maria Eduarda se levanta, corre até a vovó, bate com as mãozinhas no colo de Maria Eulália em, em tom de confidência, dispara: 

"-Vovó, sabe que o pintinho do Zezinho é diferente do pintinho do Luizinho?"
Maria Eulália estremece. O choque a faz muda por um instante, mas precisa raciocinar logo. E conclui que é preciso fingir uma certa naturalidade. Se escandalizar uma hora dessas, só poderá traumatizar a menina, que se revela nitidamente precoce nesse momento.  E, em tom brando, a avó pergunta: "-Ah, é? E por que, Maria Eduarda, que o pintinho do Zezinho é diferente do pintinho do Luizinho?" Ao que a neta, com cara de inteligente, responde sorrindo:
"-Porque é mais salgadinho!"

(pano rápido)

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