sábado, 19 de abril de 2014

Medos

A gente nunca sabe como será o amanhã. Durante toda a minha vida, eu me preocupei com o amanhã. Não o meu, mas o dos meus filhos. Da minha família. Sempre tive muito receio de deixar faltar alguma coisa em casa. O pessoal do trabalho mais proximo a mim, sempre lembra de como eu comprava e acumulava as coisas na dispensa de casa.  As pessoas riam, porque eu não comprava pacote de papel higiênico. Comprava grandes fardos. Óleo de soja era de caixa fechada. O mesmo com leite. Arroz. Feijão. Tudo por receio do futuro. E meu receio não era infundado. As coisas não andaram do jeito que era preciso. Tive vários casamentos, três filhos. Não tive o prazer de estar com todos os meus filhos o tempo todo. E lamento profundamente por isso. Um famoso psicólogo me disse que meu problema renal crônico se associa a "medo". Hoje, com o meu prazo de validade de vida ainda vigindo, mas em fase final, olho para as fotos de meus filhos, meus netos. Todos sãos, sadios, fortes, felizes e depois de tudo, eles passaram pelo "olho do furacão" incólumes. De um jeito meio atrapalhado, de uma forma não muito honrosa, aos pedaços, mas a missão foi cumprida. Eles alcançaram a maioridade, a emancipação e estão aí, prontos para a vida. .E já cuidando da própria. Não preciso mais ter receio de nada. Creio que daqui para a frente, meus rins se acalmarão em sua furiosa faina de produzir cálculos. E no ocaso da vida, finalmente, posso concluir que não há mais nada a temer. Sou, afinal, dos meus medos, um homem livre.

3 comentários:

Edison Waetge Jr disse...

Muito bom, Zeballos, achei vários pedaços de mim no seu texto. Um grande abraço!

Andrea disse...

Essa é uma das vantagens de não se ter ninguém na vida: não ter medo, nem por vc mesmo. Tinha que ter uma vantagem nesse silêncio barulhento dos feriados, né?

bjimm
andy

Débora Gomes disse...

Amore você me faz lembrar as palavras de meu pai ditas em um rascunho de história de vida recém encontrado em antiga mala. Seus filhos devem ser muito gratos a você como aqui os de casa somos ao meu pai. Só me sinto triste e sinceramente não gosto quando falas em fase final. Sei que o sofrimento físico pode nos fazer lembrar "dela", mas afaste esse pensamento e pense tudo.
Celebremos a vida! bjs
Com carinho ...
Débora