Tento escalar a montanha íngreme
de minhas fragilidades. Quero atravessar o pântano de meus medos e passar pela
floresta de meus receios mais recorrentes. Vislumbrar, com a ajuda da luz
bruxuleante de minha vã esperança, um horizonte possível, que se não me venha a
dar bonança e alegrias, pelo menos um pouco de paz e tranquilidade, adequadas à
minha condição física e idade. Nesta fase da vida, é difícil até sonhar, porque
se acorda com o corpo dolorido e a cabeça inchada. Aquela tocha incandescente
que carregavas à minha frente, oh destino, iluminando fartamente o meu caminho,
por onde ficou nessa viagem insana e fantástica? E assim, de esquina em esquina, vou tateando
as coisas prováveis da existência e selecionando, dentro do possível, o que me
faz bem e o que não. Por vezes, o que não fica e tenho que jogar fora o que sim.
E isso dói mais que extração de ciso. Arrebenta o peito, é como se um garotinho
inocente tivesse que jogar fora sua coleção de botões ou rasgar um a um seus gibis
raros e demoradamente colecionados. A Natureza é boa, mas de vez em quando
surta, e teima em nos colocar de joelhos, para experimentar a nossa capacidade,
a nossa resistência, a nossa adaptabilidade. Nos faz sentir fortes e poderosos,
para no momento seguinte, nos humilhar e nos fazer rastejar, muito embora o
nosso coração não queira e a nossa mente sofra por demais com isso. A natureza
quer nosso sangue, nosso cérebro, nossa capacidade, nossa resistência só para
ela, e nos toma, aos poucos, tudo isso. É quando aquele gigante de ferro e aço,
aparencia de pedra e resistência do diamante, se desmancha em lágrimas, como um
garotinho indefeso, no fim de sua capacidade de suportar a dor física e moral
da injustiça e da intolerância que porventura permeiam o caminho. E um certo
dia, quando menos esperamos, porque uma característica marcante do destino é
realmente o fator surpresa, nos pegamos totalmente processados pelos moedores
de carne e mentes da vida e, assim, depois de uma longa jornada em busca do
infinito, na calada da noite, na soleira da porta, como se nada neste mundo nos
perturbasse ou incomodasse, afagássemos lentamente a cabeça de um gato, este
sim, perfeitamente inteirado do que nos acontece e, solidário.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
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