Nos mais sombrios dias de minha vida, quando eu amargava os meus mais fundamentais erros e curtia o resultado implacavel de derrotas merecidamente recorrentes, num circulo vicioso que me levava aos poroes da existência, ao me pegar passando defronte churrascarias e tendo barato com o cheiro da carne assada, olhando as pessoas nos bares tomando cerveja e execrando esse hábito, uma vez que a garrafa de meio litro de pinga custava o preco de um terço do de uma garrafa de cerveja, apos me pegar comendo uma mistura nojenta de farinha de mandioca, oleo de soja, sal e água porque o estomago vazio nao me deixava dormir à noite, ao pedir a Deus que nunca mais me permitisse dormir num colchão tão fino a ponto de me doerem as costelas encravadas no estrado, ao ver os meus amigos, os mais diletos e até parentes, sumirem nas brumas de uma indiferença brutal e definitiva, ao ver pessoas que antes me bajulavam trocar de calçada ao cruzarem comigo na rua, ao sentir uma atavica e imensa vergonha de tudo isso, aos poucos, eu fui descobrindo um mundo novo, notável e de grande significado. A primeira descoberta é a de que se você não for amigo de você mesmo, é problemático. E segundo, que se você não conseguir se adaptar, será destruido rapidamente senão pelos outros, mas por você mesmo. Descobri que é possível viver com menos de um dólar por dia, desde que não enjoe de arroz com salsicha. E na solidao de quem amarga absolutamente sozinho a propria desdita, dado que tem vergonha de até deixar que os outros percebam que você está na pior, ainda assim, vc brinca, sorri, graceja, ironiza, como sempre, sempre o fez. É assim que o ser humano, por você representado, sobrevive na selva de pedra, diante das feras humanas e perante a sua própria incapacidade de contornar esse pantano, tendo que atravessa-lo do jeito que possa e da maneira que entenda como viável. E se por acaso, vc me perguntar se tive algum resultado positivo de tudo o que aconteceu comigo, apenas posso lhe dizer com alguma dose de satisfação. Acho que sim, posto que estou aqui.
sexta-feira, 6 de julho de 2012
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Um comentário:
Aprendi que é fácil ser, qdo não há problemas materiais. É facílimo dizer coisas, pensar coisas, gargalhar coisas, qdo se tem a carteirinha do clube e se faz parte da roda dos "bien".
Tb é fácil, qdo se é expulso desse carrossel patético do ganho-e-consumo-e-que-se-foda-o-resto, se destroçar nas drogas e na autopiedade.
Mas aprendi tb que, se havia algo em nós de verdadeiramente humano antes - e se isso insiste e transparece qdo estamos relegados às calçadas das churrascarias - em algum momento a gente descobre essas coisas siderais, fundamentais.
Talvez a queda seja essencial no caminho da transformação e do reflorescimento.
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