segunda-feira, 16 de maio de 2011
Novidadeirismo
Estava vendo a data da publicação no jornal O Globo dessa pérola de Cristóvam Buarque.
Ano de 2000. De lá para cá, quanta água passou por debaixo da ponte!
Mas o valor do que foi dito nesse artigo, não diminiuiu nem um pouco, só aumentou.
A propósito, estava lembrando de uma conversa com meu chefe, tempos atrás.
Ele me disse que determinado assunto estava velho, com a intenção de dizer que eu deveria cuidar de assuntos mais recentes.
Aí eu fiz a seguinte observação:
"-Ainda bem que vc não está na Itália e não apita nada por lá. Imagino que se pudesse, iria pretender reformar a antiquíssima Capela Sistina e substituir aqueles afrescos seculares, por novíssima camada de pastilha reluzente."
Ele foi embora sem me reesponder. Acho que foi para não me dizer um palavrão.
Em redações de TV também existe no ar um cinismo latente, quando se trata de classificar um assunto como obsoleto.
Não sei se dei azar nas televisões onde trabalhei, mas em todas (uma meia dúzia) havia uma preocupação atávica com a validade dos assuntos.
Em paralelo, havia "n" critérios para avaliar se um assunto 'morrera' ou não. Praticamente subjetivo e dependia do humor das chefias naquele determinado dia.
Pouco afeitos à figura da 'suíte' - uma espécie de continuação de matérias, justificadíssima quando o assunto é extenso e complexo, os chefes deixavam de lado assuntos importantes, apenas com a explicação sumária: "Demos isso na semana passada". E lá se ia a oportunidade de fazer o telejornal bombar.
Mas eu sempre esperava a minha vez e quando me deparava com uma pauta de evento anual, como o natal, p.ex., logo atacava em meio à redação fazendo em voz bastante alta um comentário parecido a este:
"- Nossa! Matéria sobre presépio animado! Mas a gente não fez essa matéria no natal passado? Eu me lembro. Fica mais fácil fazer um reaproveitamento, devemos ter isso no arquivo. "
Porque na verdade, tirando a cara dos protagonistas, as pautas, os enfoques e as matérias eram totalmente iguais, apenas o ano era diferente. Papai Noel que o diga.
Mas aí, o 'novidadeirismo' das chefias era esperta e devidamente desligado. E ninguém dizia, descartando a possibilidade de execução da pauta: "-Ah, esse assunto a gente já abordou."
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