O Gilberto Kassab, como todo prefeito, tem uma vocação muito grande para ser culpado e a tem exercitado soberbamente nos últimos tempos.
É certo que um maior cuidado nos serviços de zeladoria da cidade pode contribuir para minimizar o problema das enchentes, mas jamais poderá resolver.
O buraco é mais embaixo.
Ocorre que a cidade foi erigida por sobre colinas e vales.
Os fundos de vales são excelentes bases para construção de importantes avenidas de grande fluxo de veículos.
Portanto, nada mais justo do que pretender fincar o seu comércio ou a sua casinha, ali também.
Aliás, a valorização ali obviamente será maior, na medida em que a cidade cresce e se desenvolve.
Mas há o lado sombrio disso tudo que nem a imprensa, nem os especialistas, nem ninguém ousa tocar de maneira ostensiva.
É que a cidade está totalmente impermeabilizada e não há nenhuma tecnologia neste mundo que seja viável para resolver isso através de galerias pluviais, cujas dimensões e custos atropelariam qualquer orçamento público.
E aqui, entra um componente sutil disso tudo, chamado 'problema cultural'.
Os dois maiores protagonistas no combate a enchentes em nossa metrópole se chamam "terra" e "vegetação."
Só que no imaginário da população, terra e vegetação se caracterizam em uma só palavra: sujeira.
E para evitar a sujeira da rua de terra, asfalto.
Para evitar a sujeira do quintal de terra, cimento.
Para evitar a sujeira das folhas secas, corte ou remoção de árvores.
Para evitar a sujeira da frente da casa, elimina-se o jardim e pastilha-se todo o solo.
Já foi dito que os extremos se tocam.
Essa estupidez coletiva só poderia desaguar na mais perfeita e total impermeabilização do solo urbano.
Os fundos de vale jamais deveriam ser ocupados massivamente, principalmente com essa cultura impermeabilizante de grave eficiência e longo alcance, dado que o fundo de vale, pela natural lei da gravidade, é por onde a água da chuva irá escoar inexoravelmente.
E se houver alguma obstrução, por lixo por exemplo, que é muito comum, inunda tudo, mesmo porque o sistema de drenagem de per si já é insuficiente para toda a carga e ainda mais com a ajuda dos porcos de plantão, que jogam lixo por todo lado.
Absolutamente todas as emissoras de TV fecham o foco de suas cameras nos locais alagados, reclamando providências das autoridades e afirmando que "São Paulo está debaixo dágua" o que nunca é verdade.
Toda vez que chove, há realmente problemas de trânsito porque as principais avenidas ficam nesses tais fundos de vale .
Entretanto, a maior parte da cidade leva vida normal.
Por vezes, dado o gigantismo da cidade, chove muito na zona norte e as demais zonas estão secas. Mas o filé das TVs são os pontos de alagamento, obviamente em locais baixos e geralmente ao lado de cursos dágua, canais ou similares, impossíveis de não alagar por menor que seja a chuva. Não se resolverá o problema secular de enchentes em São Paulo, sem uma 'evangelização' da população quanto à necessidade de se desnudar a terra, abrir espaço para vegetação, não ocupar fundo de vale e fazer tudo ao contrário do que se faz e se acredita ser o certo hoje em dia.
Em tempo, quando alguém se espanta com os problemas crônicos de trânsito na capital, eu logo vou perguntando: "- O que vc quer? Coloca-se 7 milhões de idiotas motorizados nas ruas ao mesmo tempo em um raio de 40 km e quer que isso dê certo?"
É impressionante a falta de compreensão do cidadão, quando ele sai de casa de carro em São Paulo e acredita sinceramente que não terá problema algum nem na ida, nem na volta e fica extremamente enfurecido se acontece alguma coisa. Por inteligente, culta e formada que seja essa pessoa, no quesito 'habilidade para viver o mundo metropolitano' demonstra cérebro de galinha. Que me desculpem as penosas.
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