(Armando Coelho Neto*)
É fingir ser sério e alguém acredita.
No último beijo, por exemplo, ele fingiu não ser mais um e ela fingiu acreditar.
Ele saiu com sentimento de culpa de que enganou, pois fingiu ser honesto, e ela ficou com a sensação de que o enganou ao fingir acreditar.
Não sei se houve sentimento de culpa por parte dela, mas não lhe custaria nada fingir que sim.
Para ele, melhor crer que foi o melhor homem na cama, que barriga de tanquinho é balela, que outros atributos são dispensáveis.
0 importante é a beleza interior, ainda que ninguém veja.
Eu também finjo que creio ou descreio nisso tudo, mas tenho de fingir que não finjo.
Sigo um caminho não escolhido, tão falso quanto uma nota de trinta reais.
Não abri o caminho, mas algum falso com discurso fingidamente sério mentiu tão bem que conseguiu sacramentar que a trilha que seguimos nos leva ou levaria a algum ponto importante.
Eis o caminho.
Tudo nele está falsamente pronto e acabado, com receita para tudo, desde a forma de sentar à mesa a como pegar o talher, do mastigar ao engolir.
Assim definido, as pessoas fingem sentir-se à vontade, e até tentam segurar o garfo com a mão esquerda.
Não custa elogiar a comida de que não gostei e, para quem a fez, não custa nada acreditar que fez sucesso.
Está tudo resolvido, inclusive as paixões mal resolvidas, como diz um amigo.
Assim, já se sabe quem tem o direito de ter bomba atômica e quem não tem; quem tem bomba para fins pacífico e quem não tem.
Alguém tem dúvida quanto à pureza de espírito, no discurso messiânico de quem tem bomba para proteger o planeta?
Divirto-me com a farsa.
Finjo que sou ou que existe autoridade e você finge que respeita. Professor finge que ensina, aluno finge que aprende. Está mantida a imagem do cidadão de bem.
Finjo que não vejo a placa de trânsito que me recomenda 80 km por hora, da mesma forma que finjo não saber que é minha obrigação estar atento a ela.
Mas, lá na frente, há uma câmara que finge não estar lá e me flagra. Queixo-me, pois, à Justiça.
Afinal, não fora eu informado de que a câmara existia.
Convenço o juiz, que acolhe meu pedido, pois ele também gostaria de ignorar a placa e depois ser avisado sobre a câmara.
Eu só não posso passar a mais de oitenta embaixo da câmara.
Posso, portanto, brincar de Senna, Rubinho ou Alonso.
Da mesma forma que Fernando Alonso pode ganhar a corrida na farsa, basta combinar uma batida para atrapalhar o concorrente.
Mutretas, mutretas, pontualmente tratadas como se fossem únicas.
Mas a Fórmula 1 finge que foi a primeira vez, finge que pune, que redimiu a imagem do esporte, o sacramental esporte, como o dopping nas Olimpíadas.
Em cadeia nacional de televisão, um juiz para jogadores por conta de um suposto impedimento, o adversário faz o gol, ele valida, o time segue em frente.
Ele finge que não viu, fingimos que aceitamos súmulas e comentaristas eufóricos que discorrem sobre a necessidade de seriedade, como se eles fossem sérios.
Mas logo se perdem com um gol de mão protagonizado por um francês que com isso garante a ida de seu país à Copa de 2014.
Penso que Maradona fez o mesmo, que o Peru abriu as pernas para dar a Copa aos argentinos em 78, que o jogador Paulo Rossi saiu da cadeia (problemas com o Imposto de Renda) para tirar o Brasil da Copa, mas, na seguinte, ele perde um pênalti e se redime.
Penso que Ronaldo, o fenômeno, nunca mais teve outra convulsão daquela que nos tirou da Copa e que o jogador Roberto Carlos nunca mais arrumou a meia na hora de um lançamento na área.
Finjo que foi acaso, que foi único.
Finjo.
Eu finjo, tu finges, ele finge.
Tão frugal quanto a farsa de um voto supostamente democrático.
Finjo acreditar que eleição eletrônica é honesta, mesmo sabendo que programas da NASA, da Casa Branca (EUA), de ltaipu são vulneráveis e já foram violados.
Tudo é torpe e imoral, baseado em regras compradas tão escroquemente produzidas como uma lei ou uma salsicha na periferia.
Finjo não saber que o voto é comprado, que políticos supostamente honestos se elegem com dinheiro que eles não sabem de onde vem e de repente aparecem entre meias e cuecas.
Portanto, leitores, finjam que leram este texto, finjam que gostaram.
Finja não saber que por trás do oh, oh, oh do Papai Noel ninguém está de olho no seu décimo terceiro salário.
Mas não finja para si mesmo nem na hora de dizer Feliz Natal!
(*)Armando Coelho Neto é formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, jornalismo pela USP e atualmente delegado da Polícia Federal.
No último beijo, por exemplo, ele fingiu não ser mais um e ela fingiu acreditar.
Ele saiu com sentimento de culpa de que enganou, pois fingiu ser honesto, e ela ficou com a sensação de que o enganou ao fingir acreditar.
Não sei se houve sentimento de culpa por parte dela, mas não lhe custaria nada fingir que sim.
Para ele, melhor crer que foi o melhor homem na cama, que barriga de tanquinho é balela, que outros atributos são dispensáveis.
0 importante é a beleza interior, ainda que ninguém veja.
Eu também finjo que creio ou descreio nisso tudo, mas tenho de fingir que não finjo.
Sigo um caminho não escolhido, tão falso quanto uma nota de trinta reais.
Não abri o caminho, mas algum falso com discurso fingidamente sério mentiu tão bem que conseguiu sacramentar que a trilha que seguimos nos leva ou levaria a algum ponto importante.
Eis o caminho.
Tudo nele está falsamente pronto e acabado, com receita para tudo, desde a forma de sentar à mesa a como pegar o talher, do mastigar ao engolir.
Assim definido, as pessoas fingem sentir-se à vontade, e até tentam segurar o garfo com a mão esquerda.
Não custa elogiar a comida de que não gostei e, para quem a fez, não custa nada acreditar que fez sucesso.
Está tudo resolvido, inclusive as paixões mal resolvidas, como diz um amigo.
Assim, já se sabe quem tem o direito de ter bomba atômica e quem não tem; quem tem bomba para fins pacífico e quem não tem.
Alguém tem dúvida quanto à pureza de espírito, no discurso messiânico de quem tem bomba para proteger o planeta?
Divirto-me com a farsa.
Finjo que sou ou que existe autoridade e você finge que respeita. Professor finge que ensina, aluno finge que aprende. Está mantida a imagem do cidadão de bem.
Finjo que não vejo a placa de trânsito que me recomenda 80 km por hora, da mesma forma que finjo não saber que é minha obrigação estar atento a ela.
Mas, lá na frente, há uma câmara que finge não estar lá e me flagra. Queixo-me, pois, à Justiça.
Afinal, não fora eu informado de que a câmara existia.
Convenço o juiz, que acolhe meu pedido, pois ele também gostaria de ignorar a placa e depois ser avisado sobre a câmara.
Eu só não posso passar a mais de oitenta embaixo da câmara.
Posso, portanto, brincar de Senna, Rubinho ou Alonso.
Da mesma forma que Fernando Alonso pode ganhar a corrida na farsa, basta combinar uma batida para atrapalhar o concorrente.
Mutretas, mutretas, pontualmente tratadas como se fossem únicas.
Mas a Fórmula 1 finge que foi a primeira vez, finge que pune, que redimiu a imagem do esporte, o sacramental esporte, como o dopping nas Olimpíadas.
Em cadeia nacional de televisão, um juiz para jogadores por conta de um suposto impedimento, o adversário faz o gol, ele valida, o time segue em frente.
Ele finge que não viu, fingimos que aceitamos súmulas e comentaristas eufóricos que discorrem sobre a necessidade de seriedade, como se eles fossem sérios.
Mas logo se perdem com um gol de mão protagonizado por um francês que com isso garante a ida de seu país à Copa de 2014.
Penso que Maradona fez o mesmo, que o Peru abriu as pernas para dar a Copa aos argentinos em 78, que o jogador Paulo Rossi saiu da cadeia (problemas com o Imposto de Renda) para tirar o Brasil da Copa, mas, na seguinte, ele perde um pênalti e se redime.
Penso que Ronaldo, o fenômeno, nunca mais teve outra convulsão daquela que nos tirou da Copa e que o jogador Roberto Carlos nunca mais arrumou a meia na hora de um lançamento na área.
Finjo que foi acaso, que foi único.
Finjo.
Eu finjo, tu finges, ele finge.
Tão frugal quanto a farsa de um voto supostamente democrático.
Finjo acreditar que eleição eletrônica é honesta, mesmo sabendo que programas da NASA, da Casa Branca (EUA), de ltaipu são vulneráveis e já foram violados.
Tudo é torpe e imoral, baseado em regras compradas tão escroquemente produzidas como uma lei ou uma salsicha na periferia.
Finjo não saber que o voto é comprado, que políticos supostamente honestos se elegem com dinheiro que eles não sabem de onde vem e de repente aparecem entre meias e cuecas.
Portanto, leitores, finjam que leram este texto, finjam que gostaram.
Finja não saber que por trás do oh, oh, oh do Papai Noel ninguém está de olho no seu décimo terceiro salário.
Mas não finja para si mesmo nem na hora de dizer Feliz Natal!
(*)Armando Coelho Neto é formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, jornalismo pela USP e atualmente delegado da Polícia Federal.
(fonte: Revista Artigo 5o. 11a. Edição Novembro/Dezembro2009 Pág. 66)
Flagrantes da cidade:
Veja onde está o leitor de código de barras. Primeiro, os supermercados fazem um lobby para eliminar a exigência do preço no produto e conseguem. Depois, não se sentem na obrigação de colocar preço em todos os expositores, que ninguém é de ferro. Aí, colocam o leitor de código de barras que é para o freguês não ficar enchendo o saco perguntando o preço dos produtos. E de repente, vc encontra um carrinho de carga bem na frente do leitor. E vc olha em volta e não vê encarregado, gerente de seção, gerente geral, nada. Ninguém. Tá todo mundo ocupado fazendo não sei o que não sei onde. Imagina, ter que ficar no salão da loja! E depois, é uma das maiores redes de hipermercados do país. Aí, falam que o Brasil é uma enorme teta e ninguém concorda. Mas olha aí... Nem precisa trabalhar, cadê o povo? Cadê o serviço?
Essa foto foi tirada sem a permissão do supermercado, na loja EXTRA da Avenida Ricardo Jafet. Agora só falta, além de ser mal atendido, ser processado por causa da foto. Não duvido nada.
Flagrantes da cidade:
Veja onde está o leitor de código de barras. Primeiro, os supermercados fazem um lobby para eliminar a exigência do preço no produto e conseguem. Depois, não se sentem na obrigação de colocar preço em todos os expositores, que ninguém é de ferro. Aí, colocam o leitor de código de barras que é para o freguês não ficar enchendo o saco perguntando o preço dos produtos. E de repente, vc encontra um carrinho de carga bem na frente do leitor. E vc olha em volta e não vê encarregado, gerente de seção, gerente geral, nada. Ninguém. Tá todo mundo ocupado fazendo não sei o que não sei onde. Imagina, ter que ficar no salão da loja! E depois, é uma das maiores redes de hipermercados do país. Aí, falam que o Brasil é uma enorme teta e ninguém concorda. Mas olha aí... Nem precisa trabalhar, cadê o povo? Cadê o serviço?
Essa foto foi tirada sem a permissão do supermercado, na loja EXTRA da Avenida Ricardo Jafet. Agora só falta, além de ser mal atendido, ser processado por causa da foto. Não duvido nada.
2 comentários:
Tá bom. Finjo que li e gostei. Ele é que sabe.
bem, sr, eu concordo...
é uma avacalhação...
tb sinto falta dos preços à mostra...
preciso fazer cálculos a cada olhada em determinado produto por que passo...
não encontrar o preço prejudica a economia nacional*
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